12/01/2009 Após 5 anos, Brasil volta a ter saída de capital externo
Depois de cinco anos consecutivos de saldo positivo de investimentos
estrangeiros em portfólio no país, as saídas de recursos superaram as entradas
no ano passado. Estatísticas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram
que, em 2008, o fluxo externo para aplicações em bolsa, renda fixa e outros
ativos, estava negativo em US$ 1,055 bilhão até novembro. Os dados de dezembro
devem sair em breve.
Dois mil e oito começou positivo, com cerca de US$ 16 bilhões de saldo positivo
acumulado até abril, mês em que o Brasil foi elevado à condição de país com grau
de investimento. O fluxo, crescente ao longo dos primeiros meses do ano na
esteira da valorização da bolsa - o recorde histórico de pontuação de
fechamento, de 73.416, foi batido em 20 de maio -, foi interrompido justamente
naquele mês, com a reversão da tendência de mercado. Dali em diante, a saída de
recursos externos levou a bolsa a entrar em rota descendente, até o piso de
29.435 pontos no fechamento de 27 de outubro, mês de saída líquida recorde de
US$ 7,9 bilhões.
"Em setembro (mês da quebra do centenário banco de investimentos Lehman
Brothers), tivemos um colapso no mundo, que brecou a circulação de recursos no
mundo", afirma o economista-sênior do BES Investimento, Flávio Serrano. O
dinheiro saiu do risco indistintamente, posições foram liquidadas a qualquer
preço no Brasil, Leste Europeu, América Latina e Ásia, numa corrida para ativos
considerados menos arriscados, descreve o diretor de investimentos de Renda Fixa
da Legg Mason, Guilherme Abbud.
Para 2009, há quem considere que a história dos fluxos para emergentes,
incluindo Brasil, seja diferente do que foi em 2008. Não dá para esperar uma
retomada do fluxo de capitais para o país no curto prazo, dado o cenário de
indefinição sobre os impactos da crise nas economias e empresas, avalia Serrano,
do BES. "A tônica ainda é privilegiar a liquidez, manter os recursos em caixa,
mas a partir do segundo semestre podemos contar com a volta do capital
estrangeiro", avalia o economista.
Segundo ele, para que haja uma retomada do fluxo é preciso que o dinheiro volte
a circular e as condições de mercado de todo o sistema financeiro mundial sejam
restabelecidas. E isso está ligado à expectativa de recuperação da atividade
mundial. Mas, segundo Serrano, com retração econômica em países centrais como
Estados Unidos, Europa, Japão, o investidor externo acaba buscando praças que
ofereçam maior rentabilidade. "Mesmo com uma perspectiva de crescimento baixo
para este ano, na faixa de 2% a 3%, o Brasil vai crescer e, com isso, atrair
recursos."
A economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro estima a entrada de
US$ 15 bilhões para investimentos em portfólios, entre eles renda fixa e ações.
Não é um regresso à dinâmica observada em 2007, quando o saldo de recursos
externos destinados às aplicações atingiu o recorde de US$ 33,8 bilhões. Mas já
é algo bem distinto do que se viu no ano passado, quando, num único mês,
outubro, a saída líquida de dinheiro do país foi de quase US$ 8 bilhões.
Para Alessandra, a partir do segundo semestre será possível identificar, mesmo
que na margem, o aumento do apetite por risco. Será quando grandes economias,
como os Estados Unidos, começarão a ensaiar alguma recuperação de atividade.
Abbud, da Legg Mason, acredita que os recursos voltam para os emergentes, mas de
maneira mais seletiva e o Brasil está de longe melhor posicionado para receber
boa parte desses recursos. "O país conta com uma política monetária austera,
política fiscal controlada e câmbio flutuante; quando passar o pânico, ter 12%,
11% de taxa de juros num mundo em que se paga zero é um fator de atração forte."
Do lado da renda variável, ele avalia que, embora as previsões sejam de que o
Brasil terá um crescimento mais modesto em 2008, as companhias locais
prosseguirão lucrativas e proporcionando bons retornos sobre o capital
investido.
A combinação de alta do dólar com queda nos preços das ações torna os papéis
negociados na bolsa altamente atrativos para os estrangeiros, diz o
economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto. O ponto de inflexão deve
ser observado a partir do segundo semestre, quando os mercados começarem a
antecipar a recuperação da atividade econômica esperada para 2010.
Já o economista do Banco Real Cristiano Souza acredita que a capacidade do
Brasil de atrair recursos para portfólios é limitada pelo alto grau de aversão a
risco existente entre os investidores estrangeiros. "Não vejo muita gente
buscando risco, os aplicadores ainda estão digerindo as perdas e a preferência é
por ativos de qualidade, como o T-Bond (título do Tesouro americano)",
exemplifica.
Apesar do saldo negativo, o volume de entradas e saídas nunca foi tão
significativo como no último ano. Ingressaram no mercado brasileiro US$ 209,4
bilhões em recursos externos e as saídas chegaram a US$ 210,4 bilhões. Em 2007,
as entradas já tinham crescido substancialmente (158,5%), para US$ 154,6 bilhões
- esse volume, somado a uma saída de US$ 120,7 bilhões, resultou em fluxo
positivo para o país de US$ 33,8 bilhões.
O valor líquido das carteiras de investidores não-residentes em 2008 recuou
41,36%, em dólar, de US$ 197,26 bilhões em janeiro de 2008 para US$ 115,6
bilhões em novembro. No fim do período, a maior parte das aplicações estava em
ações, com uma fatia de 61%, e renda fixa, com 33,7% do total. O restante estava
distribuído nos mercados de derivativos, debêntures, entre outros.
Fonte: Jornal Valor Econômico
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