12/01/2009 A crise financeira mundial por Antonio Oliveira Santos
Já se vê claramente hoje que a crise sistêmica que está abalando os mercados
mundiais teve origem na desenfreada especulação produzida pela elevação do
processo de securitização conduzido pelos bancos de investimentos e pelas
operações de “futuros”, “derivativos” e “opções”, nas Bolsas de Valores e de
Mercadorias, facilitadas pela falta de regulação e pela frouxa fiscalização. Aos
primeiros sinais de crise seguiu-se uma “corrida bancária”, que gerou um
problema de perda de liquidez e de confiança no mercado de proporções
imprevisíveis.
Felizmente, as autoridades do Tesouro dos Estados Unidos e do Federal Reserve
Bank estão atuando com coragem e rapidez, assim como os Bancos Centrais
europeus, e tudo indica que a crise gerada no sistema bancário americano está
caminhando para uma solução.
Nos últimos 75 anos, as crises se repetiram em várias oportunidades, como em
1929/1933, na “grande depressão dos anos 30”, e em 1939/1945, durante a 2ª
Guerra Mundial. Mais recentemente, tivemos a crise de 1991 no Japão, de 1994 no
México, de 1997 na Ásia, de 1998 na Rússia, de 1999 no Brasil e de 2001 nos
Estados Unidos, quando a Bolsa de Nova Iorque fechou por três dias após o ataque
terrorista às torres do World Trade Center. O mundo não acabou por causa dessas
crises, que foram superadas.
A crise financeira atual apresenta muitas semelhanças com a grande depressão dos
anos 30, com a diferença de que hoje a teoria econômica tem muito mais recursos
para formular um diagnóstico e as autoridades fiscais e monetárias americanas
estão utilizando os meios mais adequados para controlar rapidamente os
acontecimentos e impedir que a crise provoque danos irreversíveis. Por outro
lado, é um fato evidente de que o mundo já não depende tanto da economia
americana, a julgar pela forte presença do mercado internacional dos países
emergentes, como a China, a Rússia, a Índia e outros, inclusive o Brasil,
sustentados por amplos mercados domésticos e não só pelo comércio com os Estados
Unidos.
As autoridades americanas estão intervindo fortemente nas grandes empresas
financeiras em dificuldades, inclusive na área dos seguros, proibindo operações
de alto risco e reforçando a regulação de operações financeiras e bursáteis. Os
bancos de investimentos, responsáveis pelos excessos de securitização e pela
especulação incontrolada, estão sendo liquidados, sofrendo intervenção das
autoridades ou transformando-se em bancos comerciais, com a supervisão e a ajuda
financeira do Federal Reserve e do Tesouro. As restrições de créditos estão
sendo amenizadas pela criação da maior liquidez no sistema bancário, embora se
possa criticar a contradição dessa liquidez mediante expansão da dívida
imobiliária do governo, uma vez que se expande de um lado e se contrai do outro.
Certamente, o mais apropriado seria proceder à expansão monetária sem recorrer à
política fiscal.
Os problemas mais agudos estão sendo superados, após o enorme susto causado pela
falência do Banco Lehman Brothers. Desde então, o Bank of America encampou o
Merril Lynch e o Cooutrywide, o J.P. Morgan absorveu o Wachovia. O mesmo está
acontecendo na Europa, também com apoio maciço dos Bancos Centrais, com a
encampação do Northern Roscks (Inglaterra), a sustentação do IKB (Alemnha) e o
socorro do banco Fortis (Bélgica). Paralelamente, o governo americano estatizou
as duas empresas gigantes do mercado imobiliário, a Fannie Mae e a Freddy Mac, e
também assumiu o controle da AIG, a maior empresa se seguros do mundo.
Finalmente, espera-se a aprovação pelo Congresso americano de um programa de
sustentação da liquidez, no montante de US$ 700 bilhões, além de mais de US$ 600
bilhões já injetados no mercado. Os danos causados são irreversíveis, mas a
execução desse programa poderá atalhar uma crise econômica, de proporções
imprevisíveis.
É indispensável superar a crise de confiança. Isso pode levar tempo, mas tudo
indica que as medidas adotadas pelos Estados Unidos estão sendo realizadas em
tempo e em doses suficientes. A pujança dos mercados emergentes, liderados pela
China, vai ajudar a sustentar o nível das atividades econômicas e a reduzir as
proporções da crise, dando prosseguimento ao processo de globalização. A
continuidade do ritmo de crescimento da China passa a ser a grande interrogação.
Ao que tudo indica, o governo brasileiro está atento à crise e preparado para
administrar a política fiscal com prudência e comedimento. O sistema bancário
nacional e as empresas de seguro brasileiras gozam de boa saúde. Impõe-se maior
vigilância nas operações da Bovespa/BMF, conferindo mais responsabilidade às
empresas de auditoria. O caminho é esse.
Antônio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo
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