Países com economia considerada avançada vão ter retração de 2% neste ano;
crescimento do Brasil deve ficar em 1,8%, diz FMI
O FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta para 2009 a menor taxa de
crescimento global em mais de 60 anos. Após novo corte nas suas previsões (o
terceiro em quatro meses), o Fundo estima agora que o mundo crescerá só 0,5% e
que há alguma chance de maior recuperação em 2010.
Na estimativa do FMI, as economias avançadas atravessarão longa recessão. Ela
resultará em uma retração nesses países de 2%. O fraco desempenho global ficará,
portanto, "nas costas" dos emergentes.
Para o Brasil, o Fundo projetou aumento do PIB (Produto Interno Bruto) de 1,8%
em 2009, acima da média da América Latina (1,1%), mas abaixo dos estimados 5,5%
de 2008.
China e Índia devem ver o ritmo de seu crescimento cair à metade do desempenho
de 2007. Os dois países devem crescer 6,7% e 5,1%, respectivamente. Na média, os
emergentes devem evoluir 3,3% em 2009. Em 2008, foram 6,3%.
"A redução no ritmo da atividade econômica foi dramática. Nas economias
avançadas, o impacto maior veio da queda no consumo e de uma brutal diminuição
na confiança de empresas e consumidores. Entre os emergentes, o impacto foi
externo, com um colapso nas exportações, na oferta de crédito de fora, que tende
a piorar, e com a diminuição dos preços das commodities", resumiu o
economista-chefe do FMI, o francês Olivier Blanchard.
Comércio mundial
Depois de ter crescido 4,1% no ano passado, o volume de comércio mundial deve
recuar 2,8% neste ano, impactando principalmente as economias mais dependentes
das exportações, como a chinesa.
A única boa notícia nas previsões do Fundo é que a inflação parece estar
completamente sob controle, havendo até o risco de deflação em alguns países. A
alta de preços nas economias avançadas ficará em 0,3%. Entre os emergentes, em
5,8% (ante 9,2% em 2008).
A inflação em queda, segundo Blanchard, vem permitido atacar a crise com uma
combinação agressiva de corte nos juros e aumento dos gastos estatais, via
déficit público.
"O ajuste daqui em diante ainda será bastante doloroso. O quadro atual se
converteu também em uma crise de confiança, em uma atitude de esperar para ver
como as coisas vão ficar. Quando a chave é a confiança, é essencial que as
políticas adotadas sejam amplas e fortes para que ela retorne."
Dentro desse quadro de "ajuste doloroso" e de "esperar para ver", Blanchard
afirmou que parte essencial do novo plano econômico em gestação pelo governo de
Barack Obama, o corte de impostos, pode ter um efeito "muito limitado" sobre a
economia.
O plano prevê reduzir impostos de quase US$ 300 bilhões para a classe média e as
famílias mais pobres nos EUA. Mas Blanchard avalia que grande parte do dinheiro
a mais tenderá a ser poupado ou usado para pagar dívidas, e não direcionado ao
consumo.
"O mais efetivo é o governo aumentar ele mesmo seus gastos na economia via
investimentos em infraestrutura, por exemplo", disse.
Crise deixará 51 milhões sem trabalho, diz OIT
Mais de 51 milhões de pessoas podem perder o emprego em 2009 em decorrência da
crise, segundo relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
O estudo do órgão das Nações Unidas estima que o número de desempregados pode
aumentar entre 18 e 30 milhões e pode chegar a "51 milhões se a situação seguir
se deteriorando".
No melhor dos cenários, a taxa média de desocupação passaria de 5,7% em 2007
para 6,1% em 2009, o que significa 191 milhões de pessoas sem trabalho. "A
mensagem da OIT é realista, não alarmista. Nós enfrentamos uma crise global do
emprego", afirmou o diretor-geral da OIT, Juan Somavia.
A previsão anterior da OIT, divulgada em outubro, era de que 20 milhões de
empregos iriam desaparecer ao fim de 2009. No pior dos casos previstos pela OIT,
a crise pode ainda fazer com que 200 milhões de trabalhadores sejam levados para
abaixo da linha da pobreza, principalmente nos países em desenvolvimento.
Na América Latina, as previsões sugerem que a taxa de desemprego na região pode
chegar a 8,3% neste ano.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo – Editoria Dinheiro
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